JUNTOS NO AMADURECIMENTO
- Fernando Cintra

- 20 de jul. de 2020
- 4 min de leitura

JUNTOS NO AMADURECIMENTO
Uma Reflexão sobre o Discipulado Hoje
Provérbios 23:12 "Aplique seu coração às instruções e seus ouvidos às palavras de conhecimento".
Qualquer estrutura eclesiástica institucional de difícil mobilidade, cristalizada não pode servir ao discipulado. O mentoriar o outro o levando à maturidade só se faz possível onde há a priori vivência orgânica de existência e desenvolvimento.
Em termos cristãos o discipulado se faz junto à igreja local e além dela.
O termo "igreja orgânica" se tornou popular no Brasil com a publicação em 2007 do livro "Igreja Orgânica: Plantando a Fé onde a Vida Acontece" de Neil Cole.
No livro de BRUNNER, Emil. Equivoco sobre a igreja. São Paulo: Novo Século, 1998, há a seguinte constatação: “A Igreja é um grande mal entendido. De um testemunho construiu-se uma doutrina; da livre comunhão, um corpo jurídico; da livre associação, uma máquina hierárquica. Pode-se afirmar que, em cada um de seus elementos e na sua totalidade, tornou-se, exatamente, o oposto do que se esperava”.
O teólogo SNYDER, A. Howard em seu livro: Uma Comunidade Viva. São Paulo: Vida, 2000, dando continuação a esta declaração afirma que “a Eclésia é uma comunhão das pessoas que são unidas pelo espírito pela fé em Jesus Cristo, nunca uma sociedade ou uma corporação jurídica da sorte que se torne em Catolicismo e em Protestantismo”.
Ainda em seu livro Vinho Novo, Odres Novos. São Paulo: ABU reflete,
“o que está em foco é a pergunta: Como ser igreja? A resposta precisa passar pelo fato de a Bíblia não ser um compêndio institucional, mas plano e fonte da vida renovada da igreja. A igreja não é uma coisa. É povo. Povo escolhido, peregrino, da aliança, testemunha viva do poder de Deus, santo. Assim é preciso criar estruturas que estejam em sintonia com o que ela é ontologicamente. Esta estrutura precisa passar pela mente de Cristo numa contextualização do mundo, sendo compatível com a ênfase pessoal, com a flexibilidade variada para ajudar a sustentar a vida cristã no mundo, alicerçada sobre os dons espirituais e na comunhão.”
Assim, não seria um erro dizer que o fracasso do discipulado em muitas igrejas do passado, atualmente, está basicamente no fato de ser concebido em espaços rígidos ao invés de campos de vida.
A melhor definição que já ouvi é essa: “O discipulado é um estilo de vida, não algo que ativamos e desativamos uma vez por semana, quando nos sentamos à mesa com um grupo“ (Lifewaywomen). O segredo da mesa.
Portanto, "Tornar-se discípulo significa tornar-se um aprendiz ao longo da vida, um estudante de Jesus Cristo" ( United Faith Church).
Fica claro que o discipulador está intencionalmente equipando os crentes com a Palavra de Deus por meio de relacionamentos responsáveis, por meio do poder do Espírito Santo. Este pode ser uma pessoa altamente preparada, mas pode ser alguém completamente desprovido de cultura. A sabedoria para a vida aqui é o indispensável.
Há um trabalho de casa que deve ser feito antes de empreender o discipulado bíblico: ser uma igreja viva, livre de agendas cheias de programas, objetivos e metas institucionais. Este é o ponto e pronto.
É claro que não há ingenuidade aqui. Toda igreja local tem aspectos institucionais e isto se faz necessário porque ela é um grupo organizado, mas o que se requer é que estes estejam submissos à dinâmica da vida de seus membros.
Se a igreja não está disposta a ser repensada e começar um ciclo de vida libertador, não adiantará querer realizar discipulado, pois será qualquer coisa menos bíblico em essência e em resultados.
Um verdadeiro discipulado deve buscar desenvolver na vida do discípulo pensamentos, sentimentos e ações para o seu amadurecimento, tendo como alvo Jesus Cristo.
Convicção, comunhão, confrontação, comunicação, compromisso e confiança são sinais de amadurecimento de um servo de Deus.
É exatamente isto que se quer desenvolver na vida do discípulo.
Estes aspectos não são conseguidos por organogramas, sistematização de ações, perfis e tantas outras coisas.
O exemplo continua sendo o modus operandi para um verdadeiro discipulado cristão.
A maneira de conquistar isso na vida do discipulado vem por uma iniciativa, disposição, motivação, humildade e lealdade que estão na pessoa de Cristo e que devem estar na vida de todo aquele que deseja o amadurecimento “à medida estatura completa de Cristo.” Ef.4:13.
Estar juntos num relacionamento de cumplicidade, lealdade se faz absolutamente necessário para o amadurecimento de um seguidor de Cristo.
Assim, não acredito em pequenos grupos, escolha de perfis de discipuladores e discípulos, ou qualquer outra coisa que tente colocar o processo discipulador dentro de uma caixa por melhor que esteja embrulhada para presente. Estas ações cabem em outras dinâmicas da igreja local, e, por favor, não me acusem de ser teórico porque minha experiência pastoral de anos no ministério me autoriza a esta conclusão.
Acredito sim, no estar ao lado independentemente do estágio do outro, de suas características negativas, de seu mundo.
É uma eterna tentativa de pertencer ao outro, mesmo quando o outro não está pronto para andar milhas com você.
O verdadeiro discipulado começa pelas incertezas do outro, dos medos que temos de sermos decepcionados, dos sonhos que se transformam em pesadelos muitas vezes. Mas se faz também com grande expectativa de ver o outro crescendo, florescendo e dando frutos de arrependimento, servindo de sombra para outros, fazendo seus frutos caírem para alimentar os famintos da vida.
Discipular é está em um espiral, em um contínuo movimento de evolução e de involução, em um caminho, como o de Emaús.
Que a igreja em todo mundo, especialmente a Brasileira, possa acordar para a necessidade de maturidade de seus membros traduzida na busca de um discipulado verdadeiramente bíblico, sem paternalismo, sem enrijecimento, mas com a esperança de ver pessoas no seu dia-a-dia refletindo Jesus Cristo e fazendo o Evangelho ser sempre o caminho para a salvação.




















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